ST 02
ST 02. Título:
A MULHER SUICIDA: ARQUIVOS DO AUTOANIQUILAMENTO FEMININO
Proponentes:
Willian André/UNESPAR-Campo Mourão
Lara Luiza Oliveira Amaral/UEM
A MULHER SUICIDA: ARQUIVOS DO AUTOANIQUILAMENTO FEMININO
Proponentes:
Willian André/UNESPAR-Campo Mourão
Lara Luiza Oliveira Amaral/UEM
Resumo: Veneno. Overdose. Salto. Forca. Pulso. Afogamento. Tiro. As armas das mulheres para o autoaniquilamento são tidas como triviais, características, típicas. O veneno, “artimanha feminina” desde a antiguidade, sobe ao topo da lista. Flaubert faz Madame Bovary comer arsênico direto da despensa do farmacêutico, Florbela Espanca toma a dose fatal na terceira tentativa de suicídio. A overdose, seja por ingestão de remédios ou drogas, vem na sequência. As figuras do pop são encontradas mortas em seus apartamentos, a droga ao lado de Amy Winehouse, os remédios não mencionados acompanhando o corpo da vocalista do The Cranberries. O mesmo frasco que aniquila é aquele que, vez ou outra, carrega a falha: a tentativa de Sylvia Plath aos 20 anos, encontrada três dias depois em vida; o internamento de Sarah Kane após a superdose de remédios e bebidas alcoólicas; os antidepressivos em queda na garganta de Marjane e os delírios no renascimento. A ideia é não sofrer, como coloca a jovem Renée, que decide se matar quando completar seus 13 anos de idade. Sylvia Plath prepara seu leito de morte como uma mãe haveria de preparar a cama: faz o lanche dos filhos, lacra a porta das crianças com toalhas, acomoda um pano na tampa do fogão e deixa que o gás a acalente para o sono final. Mas nem sempre a morte vem em passos lentos. Sarah Kane, em total desespero entre as paredes assépticas do hospital em que estava internada, aguarda um intervalo entre os enfermeiros para pendurar-se no banheiro – pelos cadarços. Era a última saída. Não tendo portas, algumas tentam a janela. Ana Cristina Cesar desliga o telefonema e pula do sétimo andar do seu prédio. A fotógrafa Francesca Woodman, constantemente registrando seu rosto e corpo, desfigura-se ao pular do último andar de um prédio aos 22 anos de idade. A lista corre acelerada, perdemos os nomes, invertemos as épocas, misturamos as artes. Nesse momento, em união, personagens e escritoras, fotógrafas e cineastas, pintoras e artistas, declamam a sua própria elegia. Em um arquivo aberto, pretendemos retratar a mulher suicida em diferentes áreas do conhecimento. Seja na vida ou ficção, o suicídio, muitas vezes, deixa vestígios, resquícios: Sarah Kane escreve a última peça em uma espécie de bilhete suicida; Sylvia Plath deixa anotado em cima da mesa o número de seu psicólogo antes de ligar o fogão; Virginia Woolf assina a última carta ao marido antes de sair a recolher pedras para um último mergulho; Francesca Woodman capturou a angústia em uma lente borrada. Escancaramos as portas, olhamos para o buraco, encontramos a forca: invertemos a ideia de tabu e colocamos o ato em exposição, em luzes claras, numa discussão fundamentada – e necessária.
Palavras-chave: Suicídio. Mulher. Artes